quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

ano novo..

costumam-se fazer balanços nesta altura. penso que são neessários, mas a vida é um contínuo e não fazem sentido as, normais, resoluções de fim de ano, em que se prometem mudanças, vidas novas. passa o ano. dia 1 estamos iguais. sempre assim. mas apetece-me falar deste ano. embora tenha sido o ano mais duro e exigente da minha vida, foi o ano mais importante. assumi responsabilidades, soube valorizar o sofrimento, a dor, aprendi a gerir emoções, aprendi que somos bem mais fortes do que pensamos e aprendi a valorizar o que, e quem, interessa valorizar. uma pessoa diferente. felizmente. nos meus pensamentos recentes tenho reflectido sobre a vida que tenho levado, as atitudes tomadas, as decisões, as escolhas, o rumo que decidimos levar e penso, acho que me posso orgulhar, acho que quando chegar aos 30/40 anos, posso olhar para trás e pensar que efectivamente, bem ou mal, dei a cara, lutei, não tive uma vida de facilidades, uma vida entediante e isso orgulha-me. bem ou mal. bem ou mal. bem ou mal. cresci com o erro. cresci com a dor. aproveito os fracassos para dar um passo em frente, para me valorizar. e gosto disto, felizmente.

agora resta-me desejar que o próximo ano continue a ser um ano de crescimento e de consolidação. consolidação pessoal e sobretudo de amizades.

sábado, 18 de dezembro de 2010

nós e os nórdicos!

li, recentemente, num artigo, que nos países nórdicos não se recorrem a serviços de empregadas domésticas. ficaram surpreendidos? eu fiquei, confesso. então não é, que aqueles ricalhaços lá do norte da europa, com o melhor nível de vida, não recorrem a umas horitas de mulheres-a-dias por semana e são eles que esfregam o chão, limpam o pó e lavam a louça. de que lhes serve então tanta qualidade de vida, se os pobres coitados é que têm que se preocupar com estes trabalhos que tanto nos repugnam. enfim. pelo que se lê, na noruega, suécia, dinamarca, os sapatos ficam à porta de casa, não há grande preocupação em engomar a roupa e, algo muito importante, nesses países todos trabalham para manter a casa bem asseada, algo impossível em portugal, onde se convencionou que o trabalho doméstico tem género, o feminino, claro.
para a próxima quando afirmarmos que gostaríamos de ser como os nórdico temos que ver, que afinal, aquilo que para nós é banalíssimo, para eles é um luxo.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

o que me apetece dizer agora..

sempre achei que o erro era algo muito "maltratado". não ha contemplações para quem erra. isto tanto se assiste num círculo de amigos, entre os nossos pares, onde qualquer falha é levada ao extremo e se pode passar de bestial a besta, assim como nas elites que nos governam, que não têm pudor eu não dar oportunidade a quem falha. se uma empresa vai à falência, o empresário terá a sua carreira arruinada, dificilmente terá outra oportunidade. quantos excelentes actores se perderam, unicamente por terem falhado numa audição. futebolistas que poderiam ter sucesso, se aquele treino que fizeram naquele grande clube tivesse corrido bem. e depois as oportunidades perdem-se. sim, há casos de gente que não desiste, que realmente consegue o que quer. mas quando se erra, uma pessoa fica marcada.
não sou melhor nem pior que ninguém.. mas eu, que erro bastante, e julgo que todos o fazem, sempre achei isto uma estupidez. sempre acreditei que as pessoas são naturalmente boas, que não há quem erre propositadamente, sempre tive assim uma grande dose de contemplação. e até para comigo, felizmente, tenho essa capacidade. e pronto, quando erro e me atacam faço sempre aquele exercício de retrospecção. será que tenho sido um bom cidadão? será que gostava de ser diferente? de ser outra pessoa? chego à conclusão que com todos os erros, defeitos, gosto de mim na minha imperfeição.. e quem nunca errou que atire a primeira pedra.


P.S. vocês, sim, vocês que sabem quem são, sempre que precisarem eu cá estarei.. é assim, somos diferentes, felizmente..

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

OS amigos (com a ajuda da câncio)

as razões porque escolhemos os amigos são várias. pode ser por termos crescido juntos, gostarmos do mesmo clube, do mesmo cantor, dos mesmos livros e filmes, termos uma ideia sobre o mundo e as pessoas e as pessoas no mundo. por mais importante que tudo isto seja, nada chega para fundamentar isso de ter alguém em quem confiar e que confia em nós, alguém a quem sabemos que sempre poderemos recorrer e que, esperamos, nunca nos abandone.
não vejo grandes diferenças entre a amizade e o amor, amor de namorados. gostamos de estar com os amigos, temos necessidade de tar com eles, partilhar algrias, tristezas, angústias, fazer festas, ir de férias. há um momento no amor em que percebemos que amamos e o mesmo sucede na amizade. como no amor, há na amizade traições, altos e baixos, fins e recomeços, há desilusões e ilusões, despontamentos, quedas e deslumbramentos. mas estamos sempre a procurar motivos para a amizade, a redescobri-la, a valorizá-la.
com o tempo, há tendência de os amigos começarem a acertar sentimentos e escolhas, a moldarmo-nos reciprocamente. mas é nas características peculiares de cada um que mais nos sentimos fascinados.
existimos uns para os outros, e de outra maneira dificilmente faríamos sentido. é isso mesmo que fazemos com os que escolhemos e nos escolheram: um sentido. uma aventura.
Para todos vocês!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A despedida!

gosto do destino. não daquele destino a que estamos habituados a falar, de que temos a vida programada desde o nascimento. não. eu gosto é do destino do dia-a-dia, da imprevisibilidade dos acontecimentos, dos encontros. com isso somos frequentemente surpreendidos.
ao contrário desse destino, nunca achei piada às despedidas. não gosto do sentimento de ausência, de vazio, de fuga, do será que no voltaremos a ver?
o destino colocou no meu caminho uma GRANDE pessoa. uma grande humildade, uma enorme coragem, um enorme coração. ao entrar no mestrado conheci o danilo, que é brasileiro. decidiu trocar o conforto do lar para arriscar a sua sorte em portugal. trabalhava num restaurante, onde esfregava o chão e lavava a louça. à sexta e sábado lá estava nas aulas. não sei porque razão todos gostávamos do danilo. não sei se era pelas suas expressões, pelas suas piadas, se era mesmo por pena, daquele que abandonou tudo em troca de um sonho. as coisas não correram bem e o danilo acabou por "trancar" a matrícula. desde então nunca mais o tinha visto, embora a troca de sms fosse regular. no início da semana o danilo disse-me que ia voltar para o brasil, uma vez que, tinha conseguido emprego na sua área de formação. Ontem, farto do estudo, lembrei-me de lhe perguntar se queria ir beber café. fomos. e foi a última vez que tive com ele. provavelmente nunca mais o verei, mas depois este sentimento passará. o tempo cura tudo. ele estava triste porque não podia voltar ao penhascoso (ele que tanto gostou), mas estava muito contente por voltar a casa, para junto da família. eu fiquei triste. nunca mais ouvirei a sua voz dizendo "e ae valter?", ou dizendo, "cuidado com o seu cadarço".
despedimo-nos na estação de metro da baixa-chiado. emocionado, disse: "cumprimentos para seus pais, irmão, pedro e meninos" e como brasileiro que é disse-me "fique com deus". eu saí do metro, esperei que os olhos secassem e a voz deixasse de ficar trémula. respirei fundo e segui.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O primeiro..

só tive a oportunidade de conhecer uma bisavó. recordo-lhe a indumentária sempre preta, com o lenço na cabeça, que até hoje me impede de saber qual seria a cor do seu cabelo. andava sempre com bolachas nos bolsos das batas e recordo como aquilo me sabia bem, nos meus quatro/cinco anos, e tenho poucas mais recordações desta senhora.
lembro-me de quando morreu. lembro-me que estava num jantar que reunia benfiquistas, quando se soube a notícia. no dia seguinte, os cá de casa, foram para a terra da minha bisavó, onde o corpo era velado em casa. lembro-me que era proibido comer carne, que o nível de som não podia ser muito alto, porque seria uma vergonha se se ouvisse na rua o som da televisão ou do rádio, uma vez que, o corpo estava a ser velado na casa ao lado. os primos tinham que estar imóveis e serenos, apesar da curta idade.
lembro-me do choro da minha avó e do meu tio-avô, lembro-me da reunião dos vizinhos à porta de casa, do caixão a sair directamente do quarto para a rua, pela janela. lembro-me dos gritos. e lembro-me de ser o primeiro funeral a que fui, o primeiro em que me perguntaram se queria ir e lembro-me sobreudo que não conseguia partilhar daquele constrangimento, de alguém que até já era "velha". Ela, distante. Ela, acamada. Ela, que não vivia por perto. Ela, que era do meu sangue, mas com a qual eu não conseguia partilhar grandes sentimentos. Olho para trás, recordo-me dos gritos, do sofrimento e percebo que quando vamos a um funeral e dizemos "os nossos sentimentos", é isso mesmo, é o admitir de que não conseguimos sentir como eles, a família próxima, os amigos mais chegados. são só os "nossos sentimentos". Há esta inevitabilidade de nunca saber o que sofre quem está dentro do sofrimento, até que um dia chegue a nossa vez e aí talvez seja mais perceptível a dor alheia.