fernanda câncio escreveu uma crónica chamada "novembro" que começava assim:"nunca sei se se deve escrever sobre os mortos". assim como a jornalista, também eu nunca sei. sei que o problema de nós, os que ficámos, é não saber se o que morreu sabia tudo aquilo que pensávamos dele, se lhe dissémos tudo, se lhe fizémos tudo, se poderíamos ter feito mais. e podemos ir ao velório, ir ao funeral, chorar com a família, levantar o sudário e beijar o morto. de que vale isso? nada há como aquela angústia da ausência, de não nos podermos voltar a rir juntos, de não podermos voltar a discutir um com o outro, de não nos podermos voltar a encontrar no café do costume.
como diria ruy belo, "o problema da morte é o dos vivos". dos que ficam, dos que sofrem, dos que encaram de frente a sua própria morte, daqueles que a percebem bem mais presente, bem mais surpreendente do que imaginam e que têm vontade de ser mais explícitos no que sentem, não vá a morte voltar a surpreender-nos.
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