quarta-feira, 21 de julho de 2010

Levei com a morte!

Com a morte. Hoje levei com a morte. E bateu-me mal, assim de uma forma estranha – não foi dor, como acontece quando me morrem pessoas próximas; não foi sensação de vazio, nada semelhante. Foi uma espécie de empurrão ao mesmo tempo pelas costas e pela frente. Dado à velocidade da luz - que nem saí do mesmo sítio. Tipo acorda pá, qualquer dia és tu. Podias ter sido tu. quem diria que partiria tão cedo? Deu-me para aqui, podia-me ter dado para aí. Estás a ver como isto é? Espécie de banca francesa – a fortuna que sai dum corno.

Esta cena da morte é um bocado pim-pam-pum e um gajo às vezes anda de gavetas desarrumadas e de repente dói-lhe uma unha e não é nada não é nada – é só uma unha. Vou amanhã ver disso, hoje tenho mais que fazer. E vai-se a ver e valia a pena ter ido mais cedo, que com estas idades a coisa depois foi sempre galopante. E tão novo, e o caralho. Não aguentou o galope, essa é que é essa.

Mas porquê este desatino todo com esta morte? Esta morte de hoje. Todos os dias morre gente conhecida, mais ou menos velha, mais ou menos amiga, mais ou menos próxima. Francamente, não faço ideia. Sei que me sinto agoniado. E que agora que escrevi isto ainda me sinto pior. E não devia ser para isso que um gajo escreve, para depois se sentir pior. Agonia por agonia bembondam as que provoca ouvir todos os dias a senhora de foice ao ombro. Aos berros de pim-pam-pum.

(Adaptado de um texto do Rogério Pereira do Jugular)

Conheci o tiago quando ele estava internado no IPO, ao mesmo tempo que o meu irmão. Soube que as coisas não lhe tavam a correr bem, nomeadamente na cirurgia, falei com a família e depois fui falar com ele. Apesar de todo o sofrimento que sentia, foi extremamente educado, simpático. Tinha noção do que se passava, mas manteve sempre a coragem até ao fim. Eu despedi-me dele nesse primeiro dia em que falei com ele. Ele abriu os olhos e disse: "obrigado por te preocupares comigo".
Era um campeão do Judo, uma forte promessa e eu, apesar de muitas pessoas dizerem que era impossível, achava que ele ia conseguir. Na sexta feira passadaestive no IPO e pensei ir vê-lo, mas até pensei que ele já tivesse em casa. Hoje levei com a morte dele e fico lixado comigo.
Os momentos em que falei com ele foram de uma enorme alegria para mim. Era mesmo um CAMPEÃO. Disse-me que desejava criar uma fundação de apoio às pessoas que sofrem de Cancro. Vejam se percebem a grandeza do rapaz.
Devemos todos pensar nisto. Deixem-se de merdas, de intrigas, de futilidades.. Cresçam e percebam o que é a vida. ÀS vezes só percebemos nestes sítios e nestes momentos.
Aqui fica o blog dele para perceberem um pouco da sua história:
www.ipponforlife-tiagoalves.blogspot.com

3 comentários:

  1. Estive a ver o blog dele e... realmente.... arrepia.... era um lutador, merecia ficar bem! A vida por vezes é tão injusta...
    M.S.

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  2. Realmente Valter sinto-me tão pequena perante uma grandeza destas... Nem posso acreditar, ele descobriu há um mês a doença e num curto espaço de tempo acontece isto... :(


    P.S- Grande verdade o teu post.

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  3. fica feliz por teres conhecido um rapaz com tanta força, coragem e vontade de lutar. Segue as passadas dele :)

    li noticias nos jornais e realmente era um grande herói

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