segunda-feira, 29 de agosto de 2011

a escola IPO

entre a praça de espanha e sete rios há um mundo desconhecido para muitos. daqueles sítios controversos. onde as situações mais complicadas da natureza humana, o tornam num sítio mágico. é completamente perceptível os que dizem não conseguir por lá passar, mas digo-lhes, que as vitórias mais duras são as mais belas e todos nós podemos contribuir para a vitória de alguém, naquele local.

entre árvores enormes, prédios altos, parques de estacionamento, há pessoas, muitas pessoas. carros, ambulâncias vindas de muitos locais, com gente dentro, gente que mal consegue andar, que amparados por bombeiros, voluntários ou familiares dão passos curtos, à força, em busca de uma hipótese, de uma chance, que a vida lhe quer negar. pessoas deformadas, pálidas, cansadas, tristes, sozinhas, magríssimas, onde só a pele segura os ossos. pessoas com uma dignidade arrepiante, pessoas que me esmagam nesta batalha que travam. apetece-me abraçá-los, dar-lhes a saúde, que julgo ter, apetece-me levar tanta gente para casa, aprender com eles o quão bom é viver, aprender como se luta com tamanha adversidade, porque eu, um sortudo, não sei faço ideia do que isso é. gente débil, fraca, pessoas que me enchem de vergonha por ser apenas eu.
a família. os que empurram a cadeira de rodas, os que acompanham o doente na consulta, que vão buscar a sandes e o sumo ao doente, mas que nunca lhes apetece degustar. a família que assoa, que ampara, que se revolta, que chora no canto escondido para ninguém ver, que coloca a cabeça sobre os joelhos para tentar esconder o sofrimento, a revolta de não poder fazer nada perante um inimigo tão temível. a família que mais que consoladora é consolada pela coragem de gente ímpar.
profissionais. médicos, enfermeiros, analistas, técnicos, auxiliares, senhoras da limpeza. dedicação. amor. respeito. coragem. companheiros de luta. o "estar aqui ao teu lado". fazer da tua luta, a minha luta. o sorriso garantido. a piada fácil, mas desconcertante.
ali, naquele local distante, pode-se privar com a natureza humana no seu estado mais puro. pode ser o estado mais débil, mas o mais verdadeiro, o mais glorioso, aquele que encarnamos quando sentimos que podemos estar a chegar ao fim da linha. aqueles estado em que percebemos o que realmente interessa, o que nos faz falta, o que nos move e o estado em que tomamos consciência daquilo que não aproveitámos.
levem-me às cavalitas. vocês são tão fortes.





4 comentários:

  1. Uma realidade deveras difícil, uma escola tal como dizes... concerteza... é um mundo desconhecido, mas que se fosse mais conhecido nos tornaria mais humildes, menos indiferentes com o próximo, tornaria-nos com uma vontade de viver diferente e um pensamento mais preocupado com os outros e menos preocupado com a "mesquinhez" de inumeras coisas ao longo da vida.

    Um abraço

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  2. Valter,
    Fizeste uma experiência deveras singular... tiveste a "sorte" de encontrar o Homem em estado Puro, depois de retirados quase todos os adereços que a nossa "civilização" nele pendurou,
    Um abraço
    Abbas Petraeus

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