domingo, 11 de abril de 2010

Texto que gostaria de ter escrito (6)

Quero deixar-vos este texto belíssimo da Isabel Moreira, que fui retirar ao blog Jugular. É algo que eu sinto profundamente, embora nunca conseguisse expressar desta forma. Gostava que lessem o texto na sua totalidade, mas deixo-vos apenas um pequeno excerto. espero que vos abra o apetite!

"Cada um tem ou teve a vida que lhe calha, mas há muita coisa que é retirada da força das memórias familiares. A família, quando é coesa, e para mais numerosa, faz da nossa infância um “lugar”, uma ilha de afectos sem diferenças. Não se sente qualquer prisão, e ainda bem que não, uma criança nasce a escutar, só mais tarde lhe dá para ditar, e quando percorre os primeiros passos, se tem a sorte de encontrar todos os dias um colo, um beijo, a sua estrutura, essa ilha, o seu lugar onde não há divergências nem lutas, pensa que a vida será sempre assim, pelo menos com aquela gente, que funciona como uma extensão do seu corpo.

É quase religioso: na verdade, as palavras “mãe”, “pai”, irmão”, “irmã”, “primos”, “tios”, “avós”, estão carregadas não só de sangue, como de uma cultura cristã, não só de amor como de obediência, de temor reverencial e de tipos de exemplo a seguir.

Na infância, vive-se a olhar o mundo a partir de uma varanda, de costas voltadas para a nossa casa, e as diferenças, os problemas, os pecados, as mentiras, as desilusões, as promiscuidades vêm-se lá em baixo, na rua, fora da nossa família.

Há um dia em que nos viramos de costas e descobrimos que a rua lá em baixo também é habitada pelas pessoas da nossa casa. A nossa família não é perfeita, e nesse dia começamos a crescer e descobrimos, também, que crescer dói.

Crescer é como amar, dói, ou não seria crescer."

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