sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Texto que gostaria de ter escrito (9)

Inês Pedrosa, na sua habitual crónica feminina da revista Única, brinda-nos com este texto brilhante, do qual eu menciono este excerto.

A paternidade é uma das mais vanguardistas conquistas do nosso tempo. Ao contrário da maternidade, não tem cartilha de etiqueta nem caderno de encargos; aquilo a que no passado se chamava pai era uma ausência: um senhor que saía cedo e entrava tarde, pagava as contas, exigia respeito e obediência - ou pior. As famílias assim constituídas estoiraram porque eram fontes de solidão e violência. Mulheres e homens agarram-se ainda demasiadas vezes aos filhos como náufragos a pedaços de mobília flutuantes, temerosos do mundo anunciado em que o amor será o único valor com cotação constante, sem as escoras das aparências sociais. Os filhos deixaram de ser o certificado de aforro das famílias para se tornarem aquilo que desde sempre deveriam ter sido: exemplos de alegria, liberdade e futuro. Nenhum filho merece o peso da infelicidade obrigatória dos pais, nenhum filho prefere uma família agrilhoada aos seus tornozelos a um pai e uma mãe autónomos, aos quais possa amar como pessoas inteiras, estejam juntos ou separados. O divórcio tem sido muitas vezes o início do casamento dos pais com os seus filhos - o princípio do exercício da verdadeira paternidade, uma experiência de amor muito diferente da que oferece a conjugalidade.

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