domingo, 10 de outubro de 2010

A importância das vias de comunicação para a diminuição das assimetrias regionais em Portugal

Tenho colaborado pontualmente no blog "Nódoa Offline", do Pedro Pereira, um jovem de 17 anos com uma cultura e inteligência acima da média. Desta vez, é ele que vai deixar o seu marco no "Esquerdismos", com um texto que foi publicado no jornal regional mais lido no Distrito da Guarda, o "Nova Guarda".

Os recentes investimentos rodoviários devem encher o Interior de regozijo.
A partir de 2001, durante o governo de António Guterres, deu-se início à transformação de alguns IP’s em Auto-Estradas, como é o caso da transformação do IP5 na A25.
As obras do IP2, por sua vez, evoluem a um ritmo muito acelerado. Em dias de crise, numa conjuntura económica bastante desfavorável, deve-se ter consciência de que, se não se desistiu da aposta na nossa região, é porque, de facto, ela é tratada como uma prioridade, o que é de aplaudir.

A sinistralidade rodoviária foi, sem dúvida, o principal motivo que levou ao investimento público na transformação dos IP’s. Estas eram estradas com alternância entre 1 e 2 faixas, com curvas atribuladas, enorme tráfego e todas as condições propícias a desastres. Dados oficiais comprovam que, desde a inauguração da A25, o número de acidentes de viação com feridos graves e mortos diminuiu drasticamente.

No entanto, a sinistralidade rodoviária não foi a única questão tida em conta.
A aposta nas auto-estradas do Interior visa combater as distâncias. Embora a distância absoluta se mantenha, a distância-tempo (percursos de igual distância completos num menor período de tempo), a distância-custo (aumenta o rendimento dos automóveis, e consequentemente, diminui as despesas em combustível) e até a distância-psicológica (evitam-se longas filas de trânsito, stress e desconforto) diminuem, o que traz enormes vantagens, que vou de seguida referir.
É dado, assim, um importante passo na aproximação entre um Interior com necessidade de se revitalizar e as cidades mais importantes do país.

Estas novas estruturas permitem que as empresas do sector industrial se possam fixar nesta região, pois dispõem, agora, de melhores acessibilidades, imprescindíveis para escoar a sua produção e, com uma mão-de-obra mais barata do que noutras zonas do país, há mais perspectivas de sucesso. No Interior, existem ainda benefícios fiscais para as empresas, o que torna mais aliciante a sua fixação, dada a confiança numa maior competitividade e redução de custos. A vinda/criação de empresas dinamiza e estimula, com toda a certeza, todo o tecido económico desta região.
Por outro lado, a mais forte acessibilidade permite que haja mais mobilidade populacional e que muitas pessoas possam trabalhar em maiores cidades do centro do país sem terem que alterar o seu local de habitação, concretizando, desta forma, o seu desejo de sucesso profissional e, ao mesmo tempo, não abandonar as cidade, vilas, aldeias que as viram nascer.
Permite também que os recursos naturais preservados e que constituem verdadeiros ex-líbris tenham uma maior projecção: serão aproveitados pela população que vive em áreas fortemente urbanizadas, que terão a oportunidade de desfrutar da nossa região em fins-de-semana, por exemplo, sem que, para isso, tenham que fazer uma longa e cansativa viagem.
A utilidade dos “corredores”, designação para as auto-estradas do Interior, não gera, contudo, consenso. Algumas pessoas defendem que “as auto-estradas do Interior tanto facilitam a chegada de pessoas, como a fuga do Interior para as outras cidades de maiores dimensões e mais desenvolvidas (tanto em Portugal como na vizinha Espanha), o que é um problema muito grave e promove o êxodo rural”.
Não concordo com estas opiniões. Acima de tudo, tem que haver facilidade de mobilidade e redução de distâncias. As auto-estradas, por si só, não resolvem o problema da Interioridade, é preciso que as cidades mais pequenas encontrem outros vectores de fixação. Se o combate ao isolamento não se consegue apenas com auto-estradas, a verdade é que estas dão um preciosíssimo contributo.

O facto de as pessoas do Interior se conseguirem deslocar mais facilmente para cidades de maiores dimensões é extremamente benéfico, pois não só captam novas ideias de modernização como vêem satisfeitas as suas necessidades através da oferta de grande variedade de serviços e comércio e, não menos importante, enriquecem os seus níveis culturais através da convivência com outras realidades, podendo, por conseguinte, aplicar mais e melhores conhecimentos no seu contributo pessoal para o desafio do desenvolvimento do seu local de habitação.

A situação geográfica do distrito da Guarda e as dificuldades que se atravessam, mais do que nunca, não devem servir para desistir daquilo que é nosso, mas sim para aproveitar e reunir energias e ideias novas para inverter a actual tendência e alcançar um melhor bem-estar, tanto nosso, como daqueles que nos rodeiam.

Apesar de o texto estar encadeado, O que se segue não foi publicado no "Nova Guarda"

A questão do fim das SCUTS é tão controversa quanto complexa, pelo que devemos ter muito cuidado ao formar, sobre ela, opinião.
Se, por um lado, é bem verdade que no que às contas públicas diz respeito, as portagens na A25 e na A23 trarão receitas importantes, também deveremos reconhecer que o Interior do país merece ser discriminado positivamente em relação às outras zonas do país, dadas as suas fragilidades, provocadas pela situação geográfica.
Os juízos quanto às portagens devem ser feitos de forma consciente, e não numa perspectiva política, ao serem usados como arma de arremesso contra o Governo, de forma populista.

Aliás, é importante não esquecer os esforços e investimentos deste executivo para atenuar a situação débil desta região. Acrescento ainda que as responsabilidades não devem ser atribuídas exclusivamente ao poder central, mas sim, também, aos poderes locais. Existem casos de sucesso no distrito da Guarda e existem, por sua vez, casos de degradação social e económica. O distrito é avaliado no somatório de pequenos exemplos, e, se existem muitos autarcas muito impreparados e incapazes, também é justo atribuir mérito a todos os que proporcionam boas condições de vida às populações dos Municípios a que presidem, através da boa gestão de dinheiros públicos, da seriedade e da capacidade de mobilização e envolvimento comum (mérito não só de Presidentes de Câmara, mas também de pessoas com valor que empenham as suas qualidades num objectivo comunitário). É possível fazer muito com pouco, se e só se o “pouco” não se referir às mentalidades. A reivindicação é benéfica. O constante lamento como forma de “álibi” é dispensável.

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