segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Ó GENTE DA MINHA TERRA! (1)

Era por volta das 10h que chegavam os dois a minha casa para comprar o pão. Vinham de bicicleta. Um conduzia e o outro vinha sentado no quadro. Para mim era um grande momento. Eles ficavam sempre um pouco a brincar comigo, até às 11h30, hora em que tinham que regressar a casa, uma vez que, o pai estaria prestes a chegar para o almoço e eles não podiam estar ausentes.
Falo do Tó e do Pedro, claro, os dois irmãos, mas este post é para o Pedro, nunca esquecendo o Tó.
Não me apetece estar com meias palavras. Não sei se a família irá ler isto, mas aquilo que irei escrever é no meu entender, e sem querer ofender ninguém, a realidade. O Pedro não era um menino igual. Tinha dificuldades de expressão e de aprendizagem. Custa muito aceitar esta realidade e, parece-me, que os pais durante algum tempo recusaram-se a aceitá-la. Frequentou tempo demais o ensino normal, onde provavelmente percebeu que aquele não era o seu mundo, onde provavelmente terá sido ostracizado por crianças e jovens sem educação e a formação necessária para perceberem que há pessoas diferentes e que é necessário haver um mínimo de respeito pela diferença.
Só mais recentemente entrou numa escola para os meninos como ele, diferentes. E sei que lá ele é feliz. Está a aprender a fazer aquilo que ele sabe e que lhe dá prazer fazer.
O Pedro vale muito mais que nós que conseguimos ler este post, que conseguimos escrever o nosso nome, que conseguimos falar sobre política, literatura ou cinema. O Pedro, apesar da diferença, é feliz. É feliz à sua maneira. Com a sua horta, com os seus animais, com o seu mundo. E sabem é isso que me conforta.
Isto não é uma homenagem ao Pedro porque ele nem sequer irá ler isto é apenas para todos percebermos que ele merece muito, mas muito mais respeito, do que aquele nós lhe temos.

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